A criança que fala errado tem maior probabilidade de escrever errado, o que interferirá no processo de alfabetização.
E o problema da fala não deve ser subestimado. "Uma fala errada, que ao mesmo tempo é irresistivelmente engraçadinha, pode mascarar a dificuldade da criança em se comunicar adequadamente", alerta a fonoaudióloga Marta de Toledo Prioli.
Qual a relação da fala com a escrita?
Falar corretamente é condição essencial para o sucesso no aprendizado da escrita, isso porque a escrita é a relação entre um som de nossa língua (fonema) e um sinal gráfico (grafema). Por via de regra, cada fonema é representado por uma única letra; sendo assim, para representar o fonema /i/, usamos o grafema i.
Uma vez que, para escrever devemos relacionar um som com um sinal gráfico, se a produção desse som não for adequada (no caso de quem fala errado), essa relação, fundamental para a escrita, poderá ficar prejudicada.
Escrevemos conforme falamos?
A tendência é de que escrevamos do mesmo modo que falamos, não só como articulamos as palavras, mas também conforme a sintaxe que utilizamos.
Em outras palavras, se eu falo "guspir", muito provavelmente vá escrever "guspir" (em vez de cuspir, forma correta).
Há casos até de surgirem sílabas inexistentes, como uma pessoa que fala e escreve "pomrena", quando queria dizer problema. Ocorre também um erro comum no processo de alfabetização, da troca de determinados fonemas na escrita, como o "f" pelo "v" e o "t" pelo "d", mesmo que a criança fale corretamente.
Mas claro que, num segundo momento, a leitura se torna amiga da fala. Quando a pessoa lê uma palavra, fica mais fácil de ela falar a palavra corretamente.
Como ajudar seu filho a falar corretamente?
Uma dica simples e valiosa para os pais: ao conversar com seu filho, use vocabulário apropriado à idade, mas sempre fale corretamente. Nunca infantilize sua fala para imitar o modo de falar dos bebês, como "bincar" ao invés de brincar, "tetê" em vez de mamadeira, pois desta forma você estará incentivando a criança a persistir no erro.
Há algum problema de aprendizado que possa ser detectado por meio da fala?
As alterações de fala que mais prejudicam o aprendizado da escrita são as de origem perceptiva: a criança, mesmo escutando perfeitamente bem, não percebe auditiva/cinestesicamente as características de um determinado som e por isso não consegue produzi-lo.
Há casos em que a criança fala errado, mas escreve corretamente; isso acontece quando a criança consegue perceber adequadamente o som, mas não consegue produzi-lo devido a uma incapacidade da musculatura oral.
A leitura pode ajudar a corrigir um problema de fala?
Sim. Segundo a orientadora Daniela Pannuti, sua experiência com o 1.º ano (crianças entre 5 e 6 anos de idade) mostra que há vários níveis de dificuldade. Há casos em que a criança consegue superar eventuais dificuldades, como trocas de letras e omissões de fonemas no decorrer do trabalho de alfabetização, a partir das atividades propostas pelo professor para esta etapa.
Um exemplo disso é fazer uso de um repertório estável, que pode ser, por exemplo, a lista de nomes dos colegas de sala e as atividades de rotina, afixadas em sala de aula. Conforme se apropria desta lista e faz associações entre as sílabas da lista com outras palavras, consegue progressivamente corrigir seus erros de fala.
É verdade que a alimentação também influencia na fala?
Sim! Pois a alimentação interfere no processo de fortalecimento da musculatura oral. É imprescindível que a criança consuma alimentos sólidos para fortalecer tais músculos, assim como o uso de mamadeiras e chupetas não deve ser prolongado, ainda que os bicos sejam ortodônticos.
Qual o momento de procurar ajuda de um especialista?
Se seu filho já completou 4 anos e ainda fala errado, ele deve ser avaliado por um fonoaudiólogo. E, caso ele necessite de acompanhamento fonoaudiológico, é bom tentar providenciar, pois isso evitará danos futuros no processo de alfabetização.
Quem fala errado tem maior dificuldade em se fazer entender, gerando problemas de comunicação e de relacionamento. Diante disso, a criança pode reagir de forma agressiva ou introspectiva, mostrando-se insegura e com baixa autoestima.
Fontes:
Marta de Toledo Prioli, fonoaudióloga formada pela Puc-SP em 1981, especialista em motricidade oral. Atua em consultório e em assessoria escolar. Trabalha com o método Padovan.
Marta Elizabeth Santa e Sônia Regina Villar Vieira, pedagogas da Escola Estadual Professor Reynaldo Porchat - Ensino Fundamental - Ciclo I.
Daniela Pannutti, orientadora do 1.º ano do Ensino Fundamental I, da Escola Vera Cruz.
Texto publicado originalmente em:
http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-fala-certa-pode-ajudar-escrita-640209.shtml
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