(Este texto é um capítulo integrante da minha monografia de conclusão do curso de Pós-graduação - Lato Sensu em Língua Portuguesa)
O ensino de gramática é muito valorizado na cultura brasileira. Para obter bons resultados, é importante que o professor tenha conhecimento das concepções e tipos de gramática para que possa desempenhar um trabalho satisfatório em sala de aula.
1. Um manual com regras de bom uso da língua. Dizer que alguém, nesse sentido, sabe gramática, significa dizer que a pessoa conhece essas regras e as domina. A gramática normativa só considera “correta” a norma culta da língua e tudo o que estiver fora dessa norma é considerado erro (agramatical) (p. 24);
2. Descrição de como a língua funciona, do conjunto de regras que são usadas pelos falantes. Leva em consideração (considera gramatical) tudo o que estabelece comunicação, de acordo com determinada variedade linguística, ou seja, tudo o que está inserido no sistema (p. 27);
3. Saber linguístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação genética humana (...) natureza social e antropológica. Para esse tipo de gramática não existe livro, sem ter erro linguístico, são as regras da língua inerentes ao homem, a qual ele recebe assim que entra em contato com uma comunidade falante (p. 28).
De acordo com as concepções acima descritas, é clara a existência de três tipos de gramática, os quais Travaglia (2002) apresenta como:
1. Gramática normativa – estuda apenas os fatos da língua padrão, da norma culta. Baseia-se nos fatos da língua escrita e dá pouca importância à variedade oral da norma culta, que é vista, conscientemente ou não, como idêntica à escrita (p. 31);
2. Gramática descritiva – descreve e registra para uma determinada variedade da língua em um dado momento de sua existência as unidades e categorias linguísticas existentes, os tipos de construções possíveis e a função desses elementos, o modo e as condições de uso deles. (p. 32);
3. Gramática internalizada – conjunto de regras que é dominado pelos falantes e que lhes permite o uso normal da língua (p. 32).
Além desses três tipos de gramática derivados das concepções que se tem de gramática, há outros três tipos que Travaglia (2002) define como:
4. Gramática implícita – competência linguística internalizada do falante, ou seja, o falante não tem consciência dela, apesar de ela estar em sua “mente” (p.33);
5. Gramática explícita ou teórica – representada por todos os estudos linguísticos que buscam explicitar a estrutura, constituição e funcionamento da língua (p. 32);
6. Gramática reflexiva – gramática em explicitação. Representa as atividades de observação e reflexão sobre a língua (p.33).
O mesmo autor destaca que esses três últimos tipos de gramática (implícita, explícita e reflexiva) podem ser diretamente relacionados à distinção entre atividades linguísticas, epilinguísticas e metalinguísticas a esclarecer:
As atividades linguísticas são realizadas nos processos de comunicação; permitem ao falante construir o seu texto de modo adequado à situação comunicacional. São atividades de construção/reconstrução do texto que o usuário da língua realiza para se comunicar.
As atividades epilinguísticas são aquelas que suspendem o desenvolvimento do tópico discursivo. São atividades que se fazem presentes nas hesitações, nas correções, em pausas longas, nas repetições etc.
As atividades metalinguísticas são aquelas em que se usa a língua para analisar a própria língua. Nesse caso, a língua se torna o conteúdo, o assunto, o tema, o tópico discursivo da situação de interação.
Ainda, de acordo com Travaglia (2002), há outros tipos de gramática os quais são definidos por seus objetos de estudo e por seus objetivos de ensino:
7. Gramática contrastiva ou transferencial – analisa duas línguas ao mesmo tempo (p.35);
8. Gramática geral – procura elaborar princípios a que todas as línguas obedecem (p. 35);
9. Gramática universal – tenta classificar todos os fatos linguísticos observados e realizados universalmente (p. 36);
10. Gramática histórica – analisa as fases evolutivas da língua (p. 36);
11. Gramática comparada – analisa uma sequência de fases evolutivas de várias línguas procurando encontrar pontos comuns entre elas (p. 37).
A gramática sozinha não é suficiente para o aprendizado da língua, pois saber falar não é só ter competência gramatical, isto é, o domínio das regras. A gramática deve ser ensinada para que o aluno se aposse de uma técnica linguística com a qual consiga atuar, pela linguagem, na sociedade em que está inserido.
Fonte:
OLIVEIRA, Denise Pinheiro. Concepção e Tipos Gramática In: Da fala para a escrita: uma proposta didática de trabalho com as variações linguísticas sem preconceito linguístico. Monografia de conclusão do curso de pós-graduação em Língua Portuguesa para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa. São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul, 2011. cap.3, p. 37-40. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Silvestre Leite Di Iório
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1.º e 2.º graus. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
*Biodata - Denise Pinheiro
Possui Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês - pela Universidade Cruzeiro do Sul. Especialista em Língua Portuguesa pela mesma universidade. Atualmente, ministra aulas de Português para Estrangeiros e Brasileiros (atualização gramatical e redação) e Inglês. Realiza trabalhos free-lance como revisora de textos diversos.
Professora experiente na divisão In Company.
Coautora do site voltado ao ensino de inglês para negócios www.englishatwork.com.br.
Endereço de acesso ao currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/1069560837222841
Responsável pela área de Língua Portuguesa da All About Idiomas.
Concepção e Tipos Gramática de Denise Pinheiro Oliveira é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Based on a work at allaboutidiomas.weebly.com.