Por que será que, às vezes, parecemos cometer os mesmo erros?
Depois de certo tempo, no entanto, à medida que avançamos em nosso aprendizado, este erro simplesmente desapareceu. Seria um passe de mágica?
Na verdade, não é bem assim. Ao aprender um novo idioma, o nosso cérebro, a todo o momento, formula hipóteses sobre ele, além de usar padrões existentes em nossa própria língua. Surge assim uma língua intermediária entre a língua materna e o segundo idioma, que os linguistas classificam como Interlanguage (Interlíngua). O curioso é que usamos os padrões do idioma estrangeiro e também do português para estabelecer uma nova língua, que é temporária e mutável à medida que aprendemos mais sobre o segundo idioma! Parece loucura, não é?
Querem ver como faz sentido? Retomemos o nosso exemplo inicial:
He can to play the guitar.
Ok. Está errado, I know, I know... mas qual é o padrão que o aluno normalmente sabe sobre os verbos em inglês?
Que muitos deles, ao serem ligados a um segundo verbo, levam o to.
É assim para He wants to travel; She needs to study; I have to read etc.
Então, em nossa formulação mental de hipóteses sobre can, por que não usar He can to play the guitar? Faz sentido, não faz?!
Obviamente está errado, mas leva certo tempo, que varia de aluno para aluno, para percebemos que can é um verbo que segue outro padrão gramatical.
A partir dessa percepção, passamos a não errar mais sobre esta estrutura. Embora, às vezes, o aluno até “escorregue” e cometa tal erro, ele logo se corrige.
É claro que, apesar do fenômeno da interlíngua, alguns erros podem ser tão cristalizados - o que chamamos de fossilização - que demoramos mais para nos livrarmos deles. Mas isso já é assunto para outro newsletter!
O importante é perceber que o aprendizado de uma língua é um processo dinâmico, que não segue meramente padrões de repetição. O que, às vezes, parece simplesmente um erro, é apenas uma parte do nosso processo de desenvolvimento linguístico, é a nossa mente raciocinando sobre algo novo aprendido. Assim, da próxima vez que estiver aprendendo algo, seja um pouco mais complacente com você mesmo quando errar - pode ser apenas o fenômeno da interlíngua.
Fontes:
LIGHTBROWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How Languages are Learned. 3ª ed.
New York: Oxford University Press,2006.
RAMPASO, Marianne. Resistências para Aprender Inglês. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu. 2008
*Biodata - Marianne Rampaso
Graduada em Letras, com habilitação em Tradução e Interpretação Inglês - Português pela Unibero. Pós-graduada em Língua Inglesa pela Universidade São Judas Tadeu Professora habilitada para o ensino de Inglês para Propósitos Específicos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atualmente cursa o Teacher's Link, na PUC-SP, voltado ao desenvolvimento de pesquisa e reflexão aplicadas à sala de aula de língua inglesa. Atua há mais de dez anos como professora especializada no ensino de inglês geral e para propósitos específicos para aprendizes adultos.
Coautora do site www.englishatwork.com.br e professora experiente na divisão In Company.
Responsável pela área de língua inglesa da All About Idiomas.
Interlanguage: uma língua intermediária de Marianne Rampaso é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Based on a work at allaboutidiomas.weebly.com.