O mercado de idiomas tem de tudo: das propostas mais sérias as mais, digamos, “surrealistas”. Vemos algo novo - e não tão novo - todos os dias...
Por Marianne Rampaso*
Aqui vão algumas dicas para fugir dos cursos de inglês da "Dona Carochinha":
a) O nosso método é revolucionário: não existe um método “milagroso” e tampouco único. As pessoas são diferentes, aprendem de formas diferentes e têm diferentes necessidades. Há tempos vivemos na era do pós-método: seguimos visões de linguagem diferentes, mas acabamos por misturar um “monte de métodos” na aula, para contemplar habilidades comunicativas diferentes. Exemplo: a escola pode seguir uma visão sócio-interacional da linguagem, mas na hora da pronúncia, usa a repetição. Nada de errado com isso, mas é a prática certa, na hora certa. Nada de mandar o aluno repetir coisas descontextualizadas, sem sentido. Memória acústica é uma coisa, treino para concurso de papagaio, é outra!
Há também o jargão publicitário: ”o nosso método é inovador”. Sorry to say, mas a maioria dos métodos vem dos anos 50 a 90... Nada muito novo!
b) Os nossos professores não são... professores!!! DANGER!!! Que me perdoem as pessoas com empregos temporários, mas “fazer bico dando aula de inglês”, é o fim!
A atividade principal da pessoa não é lecionar, logo, ela não estará preocupada em preparar aulas... Será um “bico”, tratado como um “bico” mesmo. E que empresa, cuja atividade principal é lecionar, contrata professor em regime de “bico”? Nada muito sério, concorda?
Isso sem falar da qualificação. Já pensou chegar em um hospital e ouvir do médico: “Sou engenheiro, mas faço um bico aqui como cirurgião”. Imagine a qualidade da cirurgia... Imagine a qualidade da aula “dada” por um “biqueiro”...
Vou morrer repetindo: professor tem que ser professor de formação!
c) Vocês aprenderão vocabulário diferente porque o professor tem um sotaque diferente! OIII?! Vocabulário nada tem a ver com sotaque! É claro que há diferenças entre as diversas variações do inglês (australiano, britânico, americano, etc.), mas isso não quer dizer que você vai aprender mais ou menos vocabulário porque o seu professor tem sotaque americano, britânico ou qualquer outro... O vocabulário, em uma aula de idiomas, é construído ao longo do tempo, com PRODUÇÃO do ALUNO, em ATIVIDADES SIGNIFICATIVAS.
d) Você vai aprender inglês em xxx semanas ou meses! Uma ressalva aqui. Você pode aprender inglês neste tempo. A única coisa é o QUÊ você vai aprender... Em umas duas semanas, você pode aprender a cumprimentar uma pessoa em inglês (greeting people), por exemplo... Em um ano, dá um bom básico, em que você poderá falar de si mesmo, de algumas situações e do outro. O problema aqui é a promessa: você NÃO será fluente em xxx semanas ou meses... Vai aprender algumas coisas sim, mas não tudo. Aliás, nunca aprendemos “tudo” nem em nossa língua materna.
Então não há curso de inglês bom? Sim, há muita gente boa por aí, escolas e professores, mas você deve estar atento aos seguintes critérios:
a) Promessas mirabolantes;
b) Métodos milagrosos;
c) Ausência de staff (professores, direção e coordenação) qualificado na área;
d) Professores profissionais e não “biqueiros”;
e) Proposta pedagógica real e voltada às necessidades dos alunos;
f) Discurso do coordenador na hora da venda do curso: se parece enganação, é enganação!;
g) Clareza nas informações passadas;
h) Procedimentos de nivelamento e avaliação eficientes e bem estruturados;
i) Abertura para que você assista uma aula demonstrativa, sem aviso prévio e sem compromisso.
Enfim, sentimos quando a coisa não é tão séria, mas, às vezes, quem vende tem “aquela lábia” e acabamos comprando uma história da "Dona Carochinha"* mesmo. No entanto, nada melhor do que ter informação e parâmetros para avaliar onde estamos prestes a investir o nosso tempo, dinheiro e energia!
* História infantil, conto. Veja mais: http://ludicalivros.blogspot.com.br/2009/09/historias-da-carochinha.html
Atenção: este post foi baseado em experiências profissionais dos autores, relatos acadêmicos e de alunos. Não está relacionado a críticas a escolas e/ou metodologias disponíveis no mercado. Trata-se, apenas, do livre e democrático relato de experiências pedagógicas e de livre expressão, conforme reza a Carta Magna de nosso país.
Prof.ª ESP. Marianne Rampaso (responsável pelos cursos de inglês da All About Idiomas)
*Biodata
Graduada em Letras, com habilitação em Tradução e Interpretação Inglês-Português pela Unibero. Pós-graduada em Língua Inglesa pela Universidade São Judas Tadeu. Professora habilitada para o ensino de Inglês para Propósitos Específicos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora qualificada pelo curso Teacher's Link (PUC-SP), voltado ao desenvolvimento de pesquisa e reflexão aplicadas à sala de aula de língua inglesa. Possui também os cursos de Estratégias em Tecnologia para a Produção de Materiais Didáticos e Ensinando Inglês de Verdade por Meio de Filmes e Programas de TV em DVD, ambos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - (PUC-SP).
Atua há mais de dez anos como professora especializada no ensino de inglês geral e para propósitos específicos para aprendizes adultos.
Trabalha também com a qualificação e treinamento de professores de inglês e na preparação de treinamentos para estes fins.
Coautora do site www.englishatwork.com.br e professora de inglês, atuante na divisão In Company.
Vai aprender inglês com a Dona Carochinha ? de Marianne Rampaso é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Baseado no trabalho em www.allaboutidiomas.weebly.com.